Mesa com Ana Naddaf, Sérgio Spagnuolo e Samuel Lima reforça papel do jornalismo em meio ao acirramento dos debates; Thays Lavor destacou procedimentos do fact checking
Clara Góes
2º semestre - Curso de Jornalismo da UFC
A programação da segunda noite de atividades do II PráxisJor- Seminário Internacional Pensar e Fazer Jornalismo, ocorrida nesta quinta-feira (20/09), iniciou-se com a mesa sobre credibilidade no jornalismo, composta pela jornalista Ana Naddaf, do grupo de comunicação O Povo; pelo jornalista e fundador do Volt Data Lab, Sérgio Spagnuolo; além do professor do curso de jornalismo da UFSC, Samuel Lima. Em seguida, realizou-se a conferência sobre Fact Checking, presidida pela jornalista Thays Lavor, que trabalha com jornalismo investigativo e de dados. Tendo como pilar o compromisso ético e de responsabilidade social, a análise da credibilidade proposta pelo evento debruçou-se sobre as dimensões da verdade no jornalismo, a confiança recebida pelos meios e profissionais de comunicação, assim como ações e dilemas no caminho da qualidade informacional.
Samuel Lima abriu o debate ao relacionar, apoiando-se nas concepções de Berger, a credibilidade no jornalismo com a confiança atribuída a este, seja relacionada à notícia, ao profissional que a produz ou à imprensa como instituição. Analisando pesquisas como o Índice de Confiança Social de 2018 e a Pesquisa Brasileira de Mídia, o professor destacou a permanência dos meios tradicionais de comunicação como principais veículos informativos, e como referência de confiabilidade para as pessoas, mesmo com o aumento da desconfiança popular nestes a partir de 2009.
Em sua fala, Ana Naddaf situou a construção da credibilidade em um período de crise na política e na imprensa tradicional, ressaltando a necessidade e a importância de se pensar o fazer jornalístico. Nesse prisma, Ana mencionou a ocasião dos 90 anos do jornal O Povo como momento para não somente considerar renovações gráficas, mas também mudanças de redação e de postura, colocando em análise o futuro da atividade jornalística. Nesse universo, a questão da credibilidade no jornalismo surge quando este encarrega-se da certificação da verdade, assumindo compromisso diante da sua responsabilidade social.
A partir daí, a jornalista expõe ações como o Trust Project, que lança diversos indicadores para se pensar a construção da confiabilidade no meio, entre eles: as melhores práticas para exercê-la, os métodos de apuração adequados, a necessidade de diversidade de vozes e a checagem constante do que é veiculado. Já o Projeto Comprova reúne jornalistas na prática investigativa e na checagem de informações, atuando no combate às fake news, e na apuração de informações durante o processo eleitoral de 2018. A parceria Rede Nordeste, formada pelos jornais O Povo, Correio e Jornal do Commercio foi celebrada no sentido de unir informações e discutir a construção de um jornalismo regional, fomentando a credibilidade a partir da relevância pública e da referenciação social.
O jornalista Sérgio Spagnuolo respaldou a regionalidade como fator interessante para a construção da credibilidade, no sentido de enriquecer o cenário jornalístico do país: “Essa concentração em poucos veículos, essa concentração geográfica e de identidade populacional, muito grande nessas cidades, mas que existe em outros locais também, isso contribui de certa forma para essa crise de credibilidade que o jornalismo está enfrentando.” Além disso, a lógica da pós-verdade, juntamente à disseminação de fake news e à falta de aprofundamento na busca de informação por parte das pessoas cria uma ilusão de credibilidade. “Esse problema de credibilidade do jornalismo, é de certa forma um problema de aparência de credibilidade, porque hoje em dia as pessoas acreditam no que elas querem acreditar, a verdade interessa muito pouco, hoje em dia as pessoas escolhem no que acreditar.”
Checagem de fatos em destaque
Em sua conferência, Thays Lavor abordou aspectos relacionados ao compromisso com a verdade, um dos pilares fundamentais quando se fala de credibilidade, ao dimensionar às práticas do Fact Checking. Nessa direção, a jornalista discorreu sobre o trabalho do projeto Truco, desenvolvido pela Agência Pública, que realiza a checagem de falas e fatos divulgados por políticos ou personalidades públicas. Sob o objetivo de qualificar o debate público, contribuindo para a democracia, o projeto seleciona frases para a apuração e, posteriormente, o esclarecimento da população a respeito destas. É importante ressaltar que um dos principais nortes para essa atividade é o sentido de relevância pública, que lança às diretrizes para o impacto responsável em sociedade.
O II PráxisJor se encerra nesta sexta (21/09) com a realização de uma mesa sobre Narrativas Jornalísticas e Representações Sociais, de 9 às 12 horas. Os GTs serão expostos das 14 às 17:30, quando haverá um coffee break. Na parte da noite, às 18 horas, o tema Trabalho e Identidade no Jornalismo será debatido em uma mesa; enquanto às 19:45, será realizada uma conferência sobre Gestão de Negócios no Jornalismo.
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