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Relatório Pibic - Qualidade e audiência

Este relatório apresenta os resultados do projeto de pesquisa “A qualidade no jornalismo - o que precisamos escutar e o que dizem as audiências (Pibic 2021/2022)”, desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da Universidade Federal do Ceará (UFC). O estudo teve como objetivo investigar como os usuários da informação jornalística percebem as dimensões que qualificam esse campo. A pesquisa teve início com uma revisão de literatura sobre qualidade no jornalismo e audiência, etapa essencial para a definição de conceitos, a contextualização do problema e uma primeira compreensão sobre os interesses do público no consumo de notícias.

A revisão de literatura abordou diferentes perspectivas sobre a qualidade no jornalismo, com atenção especial às formas como o público se relaciona com o conteúdo informativo e aos critérios subjetivos que influenciam essa percepção. Estudos como os de Lacy e Rosenstiel (2015) destacam a importância de considerar tanto a demanda do público quanto às características da oferta jornalística, entendendo a qualidade como uma questão de grau e não como um valor absoluto. Ferreira e Gradim (2015) reforçam o caráter interpretativo da informação, que depende do contexto, da visão e do repertório do receptor.

Também foram mobilizadas contribuições que discutem as disputas no campo jornalístico entre interesses ideológicos e econômicos (Rocha e Temer, 2017), os impactos das métricas de audiência na produção noticiosa (Fürst, 2020) e a emergência de novas dinâmicas de participação do público, que adquire maior poder como consumidor e também como produtor de conteúdo. Outras abordagens destacam o valor de integrar os interesses e as necessidades da audiência, como no caso do ‘jornalismo de valor’ (Meijer e Bijleveld, 2016) e das experiências no jornalismo local, que priorizam a proximidade, a relevância comunitária e a escuta ativa dos públicos (Rivas-de-Roca, Caro-González e García-Gordillo, 2020; Jenkins e Nielsen, 2019).

Com base nesse referencial, elaboramos um questionário aplicado posteriormente com o objetivo de captar de forma objetiva as percepções desses usuários da informação sobre o que caracteriza um jornalismo de qualidade. O processo de alcance desse público foi realizado de forma criteriosa. Para isso, selecionamos perfis a partir da página de comentários de jornais locais nas redes sociais, sendo eles O Povo e Diário do Nordeste. Antes de selecionar os respondentes e enviar o questionário, consideramos a necessidade de elementos de inclusão ou exclusão para os perfis, tendo em vista que poderia ser impraticável a seleção destes a partir de redes sociais, devido ao fluxo imprevisível de comentários. Optamos pela qualificação desses perfis e estabelecemos dois critérios com níveis de prioridade na seleção. Essa prioridade seria referente ao tipo de comentário realizado, que deveria ter algum nível de análise e crítica ao conteúdo publicado pelos jornais. Assim, o Nível de Prioridade 1 se refere ao perfil que analisa aspectos do produto jornalístico, enquanto o Nível de Prioridade 2 envolve análises que não necessariamente se concentram na produção jornalística, podem ser em relação à pauta de uma determinada matéria e às repercussões dela, entre outros.


Iniciamos nossa seleção analisando os comentários feitos nas notícias dos principais jornais do estado nas redes sociais, O Povo e Diário do Nordeste. Foi importante definir quais tipos de notícias mereceriam atenção para equilibrar a busca de perfis, dado que, inicialmente, não conseguimos filtrar quais notícias poderiam ter maior engajamento. Isso se deve à própria dinâmica do jornalismo, que faz alguns fatos serem mais destacados que outros em determinados dias, e a partir do contexto social que estamos vivendo. Essa definição segue a mesma lógica desenvolvida em pesquisas relevantes sobre qualidade no jornalismo, considerando classificar notícias por relevância e certos temas como mais importantes que outros no contexto da responsabilidade maior do jornalismo perante à sociedade. No entanto, mesmo com essas definições, enfrentamos algumas dificuldades durante a etapa de seleção, que incluem:


  1. Falta de engajamento do público na maioria dos posts publicados pelos jornais nas redes sociais, o que nos levou a restringir as redes sociais consideradas para esse processo de seleção, excluindo o Facebook como uma opção, visto que os comentários eram escassos e inviabilizaram uma busca eficiente. O Instagram se consolidou como a única rede a ser utilizada nesse processo;

  2. Carência de comentários com conteúdo analítico, o que dificultou a identificação de perfis com potencial para participar do survey.

  3. Predominância de comentários banais, resumindo-se a reações com apenas emojis ou discussões em tom de agressividade, sem análises qualificadas.


Ao aplicarmos os critérios definidos para identificar comentários com teor analítico — seja sobre o produto jornalístico em si (prioridade 1) ou sobre pautas e repercussões (prioridade 2) —, conseguimos selecionar perfis com potencial interesse na pesquisa. Seguindo esses critérios, foram identificados 202 perfis a serem contatados em um primeiro momento. Após a realização do teste do questionário, com o objetivo de eventuais ajustes, iniciou-se o contato com esses perfis para a aplicação do instrumento, composto por seis questões objetivas e de múltipla escolha. Abaixo apresentamos uma tabela que ilustra o procedimento de seleção e aplicação do survey:



Aplicação do survey

Perfis selecionados

202

Perfis abordados

185

Perfis não abordados

17

Respondentes

47


Conforme exibido na tabela, apesar da seleção de 202 perfis qualificados para a participação na pesquisa, apenas 185 foram possíveis de contatar, considerando a dinâmica das redes sociais. Devido ao formato do próprio Instagram, observamos que 13 destes perfis estavam com acesso a mensagem direta bloqueado para pessoas que não faziam parte do seu círculo na rede social. Outros quatro perfis haviam sido deletados, conforme observado na tentativa de contato. Assim, restaram 185 perfis que foram abordados com sucesso e receberam o questionário com o convite para a participação na pesquisa. Destes, 47 pessoas contribuíram com suas percepções sobre as dimensões de qualificação do jornalismo. O questionário foi divulgado em junho de 2023 e passou por uma segunda fase de divulgação em agosto de 2024, para alcançar mais respondentes. Abaixo, podemos observar os primeiros resultados:


Pesquisa sobre qualidade no jornalismo



Idade

30 a 39 anos

18




20 a 29 anos

12


40 a 49 anos

12


60 anos ou mais

3


50 a 59 anos

2


13 a 17 anos

0





18 e 19 anos

0


Quais são as suas principais fontes de notícia? (pode marcar mais de uma opção)

Sites de notícias

43

Redes sociais

36


Televisão

23


Rádio

15


Revistas

8


Jornal impresso

6


Outros: ‘Youtube’ (2); ‘podcast’; ‘fórum do Reddit’; ‘[vazio]’

5








Com que frequência você consome notícias?

Estou sempre consumindo notícias, de fontes variadas e com todos os tipos de conteúdo informativo

37

Consumo notícias com frequência, desde que sejam divulgadas pela minha fonte de notícias favorita

6


Consumo notícias por acaso, quando aparecem em redes sociais, canais de TV ou rádio, entre outros meios que utilizo

4


Não consumo ou raramente busco conteúdo noticioso

0


O que faz você comentar as notícias publicadas por canais, portais, veículos de notícia? (pode marcar mais de uma opção)

Eu comento as notícias para expressar opiniões sobre o assunto abordado

36




Eu comento para contribuir com informações sobre o assunto

29


Eu comento para debater a notícia com outros usuários

25


Eu comento quando percebo erros no texto ou na informação divulgada

25


Eu comento para criticar a postura do jornalista ou do veículo, canal, portal de notícias

16


Eu comento para compartilhar experiências

13


Eu comento para fazer perguntas sobre pontos que não compreendi ou gostaria de saber mais

11


Eu comento quando não acho a notícia interessante ou importante

9


Não tenho hábito de comentar as notícias

1


Quando você quer se comunicar diretamente com os portais e veículos de notícias, pra fazer algum comentário específico, que canais você utiliza? (pode marcar mais de uma opção)

Seção de comentários do Facebook, Instagram ou outra rede social

25

Mensagem direta do Facebook, Instagram ou outra rede social

16


E-mail

11


Não me comunico com os veículos

11


Mensagens instantâneas do WhatsApp ou Telegram

8


Ligação telefônica

0






Dentre os resultados, é importante destacar que na questão relacionada às principais fontes de notícia dos respondentes, houve duas menções ao “Youtube”, uma a “Podcast”, uma a “fórum do reddit” e uma resposta sem texto no campo “Outros”.

A seguir, apresentamos a percepção dos respondentes sobre as dimensões de qualificação do jornalismo, Os participantes indicaram o nível de importância dada a cada dimensão, considerando o nível 5 como o mais importante e o nível 1 o menos importante para a qualidade:







Dimensões de qualificação do jornalismo


Nível 5

Nível 4

Nível 3

Nível 2

Nível 1

Veracidade

37

3

5

2

0

Transparência

35

6

3

2

1

Responsabilidade social

34

6

3

3

1

Ética

33

7

5

2

0

Precisão

33

6

7

1

0

Atualidade

33

5

8

1

0

Verificabilidade

32

8

6

1

0

Pluralidade

29

10

6

1

1

Objetividade

28

9

6

3

1

Interesse público

28

8

9

1

1

Independência

26

9

4

4

4

Diversidade

26

8

11

2

0

Apartidarismo

25

9

6

4

3

Imparcialidade

23

12

6

2

4

Proximidade

20

17

9

1

0

Presencialidade

18

11

14

3

1

Subjetividade

6

5

23

6

7


REFERÊNCIAS


FERREIRA, Luciana Gomes; GRADIM, Anabela. Qualidade e credibilidade para além do Jornalismo. A informação local nas mídias sociais. Revista Mídia e Cotidiano, v. 7, n. 7, p. 34-49, 2015.

FÜRST, Silke. In the Service of Good Journalism and Audience Interests? How Audience Metrics Affect News Quality. Media And Communication, [S.L.], v. 8, n. 3, p. 270-280, 24 ago. 2020. Cogitatio. http://dx.doi.org/10.17645/mac.v8i3.3228

JENKINS, Joy; NIELSEN, Rasmus Kleis. Proximity, Public Service, and Popularity: a comparative study of how local journalists view quality news. Journalism Studies, [S.L.], v. 21, n. 2, p. 236-253, 1 jul. 2019. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/1461670x.2019.1636704.

LACY, Stephen; ROSENSTIEL, Tom. Defining and Measuring Quality Journalism. Rutgers School of Communication and Information, 2015. Disponível em: https://www.issuelab.org/resources/31212/31212.pdf. Acesso em: 20 jun. 2023 MEIJER, Irene Costera; BIJLEVELD, Hildebrand P.. Valuable Journalism. Journalism Studies, [S.L.], v. 17, n. 7, p. 827-839, 13 maio 2016. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/1461670x.2016.1175963. Acesso em: 31 jun. 2023. 

RIVAS-DE-ROCA, Rubén; CARO-GONZÁLEZ, Francisco J.; GARCÍA-GORDILLO, Mar. Indicadores transnacionales de calidad informativa basados en la experiencia de periodistas locales: estudios de caso en medios digitales de alemania, españa y reino unido. Comunicación y Diversidad. Selección de Comunicaciones del VII Congreso Internacional de La Asociación Española de Investigación de La Comunicación, [S.L.], p. 39-50, out. 2020. Ediciones Profesionales de la Información SL. http://dx.doi.org/10.3145/ae-ic-epi.2020.e03

ROCHA, Jordânia Bispo; TEMER, Ana Carolina Rocha Pessôa. O conceito de qualidade no jornalismo no discurso do telejornalismo local: uma análise a partir da ótica da TV Anhanguera/Goiás. Revista Parágrafo, [S.L], v. 5, n. 1, p. 237-245, 29 jun. 2017. Disponível em: https://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/article/view/521. Acesso em: 18 maio 2023. 

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