Os comunicadores são os profissionais da informação. Elas e eles estão trabalhando para ajudar a população a ter acesso à informação de qualidade sobre como combater o novo coronavírus e as formas de proteção, como garantir suprimentos, movimentar-se e tornar o distanciamento social viável, entre outras coisas. Esse papel implica em uma intensa demanda de trabalho de jornalistas, relações públicas, publicitários, educomunicadores, gestores e técnicos que organizam e tratam a informação – são profissionais que estão no olho do furacão, ajudando a sociedade a enfrentar a crise pandêmica.
Para saber como estão trabalhando e também se cuidando, o Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu a pesquisa “Como trabalham os comunicadores em tempos de pandemia da Covid-19?”. Foi aplicado um questionário, de 5 a 30 de abril de 2020, com questões referentes às condições de trabalho entre profissionais de comunicação, o qual foi respondido por 557 pessoas em 25 estados e no Distrito Federal, além de Portugal.
As respostas de profissionais da comunicação atuantes no Ceará motivaram a organização de um relatório local da pesquisa, a cargo dos professores Naiana Rodrigues e Rafael Costa, do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC). O relatório está disponível aqui:
Os organizadores do relatório local participaram de uma live, no canal do Curso de Jornalismo da UFC no YouTube, para apresentar e comentar os resultados da pesquisa. A mediação foi de Mayara de Araújo, jornalista e doutoranda em Comunicação pelo PPGCOM-UFC.
Achados da pesquisa
O Ceará é o quarto estado em número de participantes da pesquisa (6,8%), a maioria composta por pessoas de 30 a 39 anos (53,8%) e do gênero feminino (65,8%), solteiras (57,9%) e sem filhos (65,8%). Formados(as) majoritariamente em Jornalismo (94,7%), os(as) profissionais atuam principalmente como jornalistas (61%), em empresas de mídia tradicional (37%). As atividades que mais realizam são produção de conteúdos (32%), redação de textos (27%) e entrevistas (24%).
Para 32 dos 38 participantes, as novas dinâmicas adotadas em função da pandemia têm tornado o ritmo de trabalho mais pesado. Dos 32, 20 sofreram alterações na jornada de trabalho. Nos casos de aumento da jornada de trabalho, a variação foi de 1 a 6 horas diárias.
Os meios de trabalho mais utilizados pelos comunicadores são computadores (100%) com conexão de internet doméstica (95%) e smartphones (93%), de propriedade dos trabalhadores (81,6%). Quanto à organização de tarefas, observa-se um fenômeno de plataformização do trabalho, que passa a se desenvolver em redações virtuais através de aplicativos de mensagens instantâneas e de ordenamento de tarefas, além de serviços de e-mail.
Segundo a maioria dos participantes (65,8%), as empresas para as quais trabalham adotaram medidas preventivas suficientes para garantir a segurança dos profissionais. No entanto, ainda que minoritárias, algumas declarações (sete respostas) mencionaram a necessidade de exigência e negociação dos trabalhadores com as instituições para o efetivo cumprimento das medidas de segurança.
Metade dos profissionais que responderam à pesquisa elencou o contágio pelo novo coronavírus (deles e de seus familiares e amigos) como seu principal temor durante a pandemia, seguido do desemprego (23,7%).
Segundo revelam diversas respostas abertas de participantes, a instituição inédita e sistemática de home office por muitas empresas, principal mudança de rotina por eles declarada, resulta em uma variedade de adaptações e problemas de trabalho igualmente inéditos, cujas soluções são, muitas vezes, exigidas exclusivamente dos trabalhadores.
A organização não-presencial de tarefas impacta aspectos técnicos (como a dificuldade de debater as pautas durante o processo produtivo, que interfere na qualidade do produto final), e subjetivos, já que a comunicação entre colegas de trabalho é admitida, entre outros, como atenuante do sofrimento psíquico diariamente imposto pela rotina de trabalho.
Nesse sentido, cabe destacar que a sobrecarga de trabalho em tempos de pandemia se soma à histórica trajetória de precarização do trabalho feminino, marcado pela naturalização do trabalho doméstico, invisível e não remunerado como função feminina, e também pela inferiorização da mulher enquanto mão de obra, manifesta em disparidades de remuneração, mobilidade profissional e formas de contratação.
Esses dados integram um relatório elaborado a partir do banco de dados nacional com informações padronizadas e sistematizadas pelos pesquisadores do CPCT. Os resultados locais foram dispostos em quadros, gráficos e sentenças analíticas que nos permitem fazer afirmações sobre as condições em que trabalham os comunicadores no período de pandemia. A aplicação da pesquisa e a elaboração do relatório com dados do Ceará teve a colaboração do Grupo de Pesquisa Praxisjor, da UFC.
Comentários